NEGRA CONSCIÊNCIA, BRANCO RECONHECIMENTO



Neste domingo dia 20 de novembro foi realizada em Valença, a 9ª  caminhada pela Consciência Negra, a qual é sempre organizada pela ativista cultural Célia Maria Praesent. A caminhada começa com a concentração no Bairro do Jambeiro e percorre as ruas até a praça da República, local onde se encontra  com a população que espera para ver as danças, apresentações de orixás e culturas de matrizes africanas.

Esse ano o diretor de teatro e ativista cultural Chico Nascimento trouxe convidados como o Afrodance de Ibirapitanga, a Tribo Timbalando do Distrito de Camamuzinho/Ibirapitanga e Ubatambor de Ubatã para abrilhantar o evento e dar mais graciosidade ainda. De Valença fizeram parte do cortejo a Cia de Dança Moviments, os bois folclóricos, Estrela e de Ouro, e grupos de capoeira. Estiveram presentes a Coordenadora geral do NER6, professora Flordolina, a diretora de Cultura, Edna Xavier, a presidente do Conselho de Cultura Janete Vomeri e o Secretário da Juventude Zai Pereira.

A caminhada da Consciência Negra, tem como base a discussão das diferenças interraciais e o respeito à classe afrobrasileira visando fortalecer suas ações e diminuir a visão eurocêntrica sobre o povo que é  maioria no país mas que continua visto como remanescente de escravos, os quais por sua vez foram pessoas animalizadas por uma minoria branca e sem reconhecimento da humanidade do outro.

No Brasil esse ano se discute o lugar do negro na sociedade sob a visão da minoria branca ou quase branca, a qual se acha superior, e mesmo sabendo de sua condição mediana enquanto pessoa, se mede pelo tom da pele. Na visão dos poucos brancos brasileiros ou quase brancos, ou mesmo os quase pretos, uma moça branca limpando uma casa é uma dona de casa dando um trato no seu imóvel; enquanto uma negra é faxineira. Para essas pessoas um negro de paletó é segurança e o branco advogado. Um negro todo arrumado pode ser um traficante, enquanto um branco é uma pessoa bem sucedida. Existe, inclusive uma afirmação entre os quase brancos de que o negro tem preconceito consigo mesmo por aceitar uma cota estudantil e ameaçar o branco a ficar sem sua vaga na universidade. “Que mentira danada” como falou o Gilberto Gil.

O dia 20 de novembro na verdade, foi consagrado a Zumbi, um dos maiores lutadores pela liberdade e respeito às pessoas de cor negra e que foi morto pelos brancos para garantir a inferiorização da nossa etnia. O Brasil foi o último país a abolir a escravatura e brasileiros clarinhos ainda pensam que os  afrodescendentes são escravos e precisam de suas concessões para existir, por isso foi preciso se criar cotas para os negros conseguirem atingir um nivel superior, trabalhar em lojas de shoppings, trabalhar nas novelas em papeis que não fossem os de escravos, mesmo assim, os núcleos negros das novelas quase sempre são de comunidades com culturas fechadas, ou mais pobres, Não me lembro de ter visto nenhum negro no papel de milionário na tv.
Outro estigma confuso para os brasileiros é o candomblé, as pessoas acham que somente os negros tem essa religião, mas os negros são tudo, candomblé, espírita, budista, católico, protestante, muçulmano, e “o diabo a quatro” como diria o  Alceu Valença. Na visão de gente quase branca um(a) negro(a) lindo é um espanto, é como se fosse anormal, contudo se diz, “a menia é linda, lourinha, olhos azuis...”. o qualitativo de linda está no cabelo e nos olhos.

Consciência negra deveria ser uma caminhada realizada pelos brancos, para que eles entendessem que ser negro não é demérito, ser estúpido sim. Na atualidade, a moda é atacar negros pelas redes sociais e nem as celebridades escapam da fúria dos quase brancos no Brasil, mas o que é preciso para os agressores entenderem que não há diferença entre pessoas? Que o trabalho do negro tem o mesmo valor que o do branco? Que a vitalidade do branco é igual a do negro? Que ambas as cores envelhecem e falecem? Que ambas as etnias nascem  com o mesmo status de comportamento? Que brancos e pretos precisam se alimentar para ter forças? Onde está a superioridade  do grupo social mais claro?

20 de novembro é dia de reflexão, dia de lembrar quantos negros morreram atravessando os mares nos porões dos navios negreiros; quantos negros foram separados de suas famílias, vendidos como se fossem animais; quantos negros sofreram nos troncos passando fome e sede; quantos negros fugiram do seus senhores, iniciando a luta pela liberdade; é dia de lembrar o lugar reservado para os negros na sociedade, cobrar respeito e igualdade entre os brasileiros.

Em 2017, na décima edição da caminhada da Consciência Negra em Valença, espero ver  esse diálogo nas ruas, espero ver um grupo étnico se colocando e chamando atenção para sua dignidade. Espero ver pessoas brancas, não apenas aplaudindo a arte e a cultura dos negros, mas enxergando os negros como pessoas iguais em todos os aspectos.


G A L E R I A  D E  F O T O S






























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