A CASTANHEIRA NO CORREDOR DA MORTE

A cultura para permanecer viva necessita de quem a faça, de quem a divulgue e principalmente de quem busque sua preservação. O meio ambiente, pode se desenvolver sozinho, sem prescindir dos cuidados do homem para sua continuidade e saúde, porém há coisas dentro dele, assim como na vida humana que chega ao seu limite natural de vida. E quando não atinge totalmente o limite natural pode oferecer perigo aos seres humanos, tornando necessário, mesmo contra a vontade desses humanos, uma medida drástica e triste.
A cidade de Valença nestes últimos dias vem sentindo a manifestação de pessoas que de maneira humana e ambientalista pretendem impedir  o sacrifício de uma árvore quatrocentenária e em extinção no Brasil, cujo único exemplar em área urbana se encontra em Valença-BA. Por sentimentos patrimoniais entramos também nessa luta de maneira mais direta, acerca de um ano. O Codema da cidade e a Secretaria de Meio Ambiente contrataram empresa especializada para fazer um estudo com laudo técnico sobre a saúde dessa árvore (castanheira do Pará)  no intuito de evitar sua queda, visto que se comentava sobre o desejo de alguém de fazer a eutanásia desse raro exemplar  que pode ser vista de vários pontos de Valença e que, inclusive, servia de base para orientação de barcos no mar vindo para a cidade e de devotos para a igreja do Amparo.

O Exame foi feito, o laudo chegou, e as notícias não eram boas, a Castanheira está muito doente, ela mede mais de setenta metros, pesa cerca de 100 toneladas  está torta para o lado da BA 001 e para as diversas casas no seu entorno. O CODEMA procurou o Ministério Público e a Câmara de Vereadores, o MP opinou no sentido de cortar a árvore, posto que seu laudo atesta que para tentar salvá-la é preciso que o município gaste cerca de 200 mil reais, indenize área de cerca de 100 mts no entorno e desvie a BA 001, isso porque a Castanheira corre o risco de cair daqui a 100 anos ou imediatamente. Sua raiz segundo o laudo está insegura, seu caule está apodrecido até cerca de 10 mts de altura e sua rota na perspectiva da física se encontra desviada em um ângulo perceptível ao olho humano mais desatento.
Solicitamos, então, uma reunião entre CODEMA, secretaria de Meio Ambiente e a população interessada que compareceu e discutiu a problemática da árvore com os biólogos presentes e os representantes dos órgãos citados. Para nossa surpresa, o proprietário da castanheira que se encontra no corredor da morte estava presente na reunião. A cada vez que alguém defendia a permanência da vida da árvore, o dono dela ficava desesperado, pois está muito assustado, com medo que ela venha a cair e mate muita gente ao redor e lamentava muito ter chegado a esse ponto, revelando aos presentes na reunião que desde 1996  vem pedindo socorro  ao município para tratar do ferimento da árvore, ou se não quisessem tratar, ele daria a permissão para cortar, no entanto, nenhum prefeito desde aquela época se importou com seus reclames, deixando a árvore chegar ao estado grave em que se encontra.
O proprietário da castanheira, revelou que houve um momento, que no auge do desespero chegou a pensar em envenenar a árvore para que ela caísse sozinha, mas foi alertado por uma pessoa, que poderia causar um desastre na região tendo em vista o porte da árvore, então se limitou a mendigar atenção dos governantes em vão, só conseguindo ser ouvido nesses últimos dois anos.. Ele também se colocou à disposição do município para doar 10 mudas da castanheira para que seja plantada em lugares mais adequados e assim preserve a árvore no Brasil e no município.
O que nos chamou atenção foi o presidente do CODEMA, ativista ambiental que sempre defendeu a vida da castanheira, sucumbir ao diagnóstico da equipe que examinou a árvore e ao parecer do MP para o corte da mesma. Por ser ele, uma pessoa muito comprometida com o meio ambiente, acabou por me fazer aceitar a morte da castanheira mesmo contra minha vontade. Com um nó na garganta,  olhos marejados e o coração partido, preciso aceitar, o desmonte da árvore, preciso me acostumar a não ver mais aquela linda castanheira me guiando de vários pontos da cidade para o alto do Amparo. Preciso entender que a vida humana ainda é e sempre será mais importante que algumas coisas que a gente ama. Preciso compreender que o dono da castanheira abriu mão dela em nome da vida das pessoas do seu entorno. Todavia não posso esquecer nunca, que essa árvore hoje está condenada à morte,  e a culpa é do município que não a socorreu quando seu guardião disparou o alarme de SOS.
Espero que a morte da castanheira do Pará sirva de alerta para os próximos governantes de Valença, para que eles não deixem morrer por puro descuido, mais nenhum patrimônio de esfera alguma. Hoje a árvore vai cair, esperamos que não caia mais nada, principalmente o Teatro Municipal, que também se encontra abandonado pelos prefeitos tal qual a castanheira do Pará do Alto Amparo. 

Para ler o relatório sobre a castanheira visite o site 
http://valencaagora.com

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