ENEM 2015: UMA QUESTÃO DE GÊNERO



Era  para se apenas uma discussão sobre políticas sociais brasileiras na redação do ENEM 2015, mas se transformou numa grande guerra intelectual para aqueles homens misóginos; para os gays aposentados e reformados como Bolsonaro e Infeliciano, bem como para mulheres machistas e submissas como as  “ Mulheres de Atenas”.  A proposta de abordagem sobre a permanência da violência contra a mulher, mostrou para o país que as nossas leis devem ficar guardadinhas na gaveta enquanto os comportamentos permanecem intocáveis.
Logo no primeiro dia de prova uma questão deixou os ortodoxos de cabelos em pé, havia uma proposição com afirmações da filósofa francesa Simone de Beauvoir sobre  a formação da figura feminina numa sociedade machista. A resposta a esta questão se deu em torno  da emancipação social e igualdade de gênero. Mas parece que no Brasil muita gente ainda não sabe o que isso significa. Nunca se viu tanta gente pesquisando sobre a Beauvoir e procurando defeitos para colocar na filósofa, sua vida particular foi a primeira coisa a ser abordada pelas patricinhas revoltadas que por não saberem pensar, resolveram atacar a mulher mais importante da literatura e filosofia francesa. As patricinhas só não comentaram nas redes sociais sobre deputado federal Athur Lira do PP de Alagoas, que mesmo estando  respondendo a processo por bater em mulher  foi eleito para presidir a  Comissao de Constituição e Justiça (CCJ). Coisas de quem não sabe enxergar, não se informa, não aceita mudanças, prima sempre pelo desrespeito ao seu igual,  e pensa que está num patamar superior.
E o segundo dia de prova chegou! A redação dialogou com a questão 42 sugerindo uma esplanação sobre a persistência da violência contra a mulher,  mesmo com a existência da Lei Maria da Penha que está prestes a completar dez anos de sancionada. O que nos deixa impressionada não é o descaso das Delegacias para com as mulheres agredidas, as ofensas que estas sofrem quando chegam lá para denunciar o agressor.  As distorções nas qualificações como definir  espancamentos de mulheres  como lesão corporal leve e encaminhar para Juizados Criminais é o de menos, porque lá no Juizado se retorna para a Delegacia redefir e encaminhar ao Juízo de direito. O que nos deixa incomodada é ouvir uma mulher dizer que se outra apanha é porque merece; que nenhuma mulher é agredida sem merecer.
Nos dias de hoje, pleno século XXI, ouvir uma mulher dizer que se ela se der ao respeito, não sofrerá agressão do marido é dificil de entender. Ouvir uma mulher falar que deve obediência ao marido e que ao chegar em casa, ele não pode retirar um prato da mesa, me faz sentir na Idade Média. Esse pensamento do século XVII, demonstra  que a submissão da mulher em todos os aspectos é cultural seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo como é demonstrado nos telejornais, mesmo assim os tempos estão mudando, do mesmo modo que o comportamento feminino. Antes as mulheres teciam, cozinhavam, pariam e criavam os filhos, na atualidade elas em maioria, estudam, trabalham, continuam parindo e criando seus filhos, porém com uma mentalidade diferente, já não estão mais aqui para “obedecerem” e sim para progredirem de igual para igual. Isso incomoda a sociedade machista e retrógrada que não se conforma com a independência e o desenvolvimento intelectual de uma classe de pessoas que até pouco tempo a justiça dava licença ao agressor para abatê-las  em nome da “legitima defesa da honra”.
Em 2015 foi criado A lei de número 13.104 (lei do feminicídio)  no Brasil para tentar endurecer um pouquinho a detenção contra os  matadores de mulheres, com a qualificação para crime hediondo quando  a mulher for assassinada de maneira muito cruel e por motivos feministas,  a pena passa a  ser de 12 a 30 anos. Contudo se a mulher for morta  por briga ou motivo que não se caracterize hediondez, a pena varia entre 06 e 12 anos de prisão. Ou seja matar mulher ainda é aceitávell no Brasil.
Pessoas ortodoxas como Eduardo Cunha, tentam criar leis em que dificulte a defesa de uma mulher em caso de estupro, prática que é bem usual em todos os Estados brasileiros. Percebe-se que mesmo havendo avanços, o  retrocesso persiste para com a mulheres e algumas desavisadas reclamam porque o MEC solicitou dos jovens brasileiros, mulheres e homens, que  se posicionassem sobre o assunto. Deveriam ter orgulho de ver temas como esse ser colocado na “mesa” para que todos os estudantes possam se pronunciar a respeito. Está mais do que na hora desses estudantes, principalmente  as mulheres, se conscientizarem da sua importância na sociedade e buscarem se fortalecer, através de  ações de fortalecimento de suas cidadanias e respeito à sua pessoa individual.
O modelo Social sobre a mulher citado por Simone de Beauvoir em 1960 ainda é o mesmo visto pelos gays enrustidos e pelos preconceituosos de plantão, a questão de redação do MEC, foi uma bofetada na cara da sociedade patriacal atual e serviu para mostrar como anda a mentalidade do brasileiro que conclama a todos os ventos, “não sou preconceituoso, mas....” O “mas” nesse caso é tudo, derrubou as máscaras, mostrou muito claramente que o nosso povo não muda, continua ignorante, sem noção, e não tem o menor desejo de se tornar melhor enquanto cidadão e enquanto pessoa.
                                                                                                                                 out. 2015

Comentários

Unknown disse…
Parabéns Dores! Como sempre você mostrou para que veio...ótima sua reflexão sobre o tema da redação do ENEM 2015, faço das suas palavras as minhas.....

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