A COLEÇÃO INVISÍVEL



O cinema é um dos meios mais antigos de diversão na modernidade e eu sou um pouco colecionadora de histórias cinematográficas, sejam elas boas, ótimas ou mais ou menos. Se é cinema estou sempre aposta a conhecer seu roteiro.
Falando em colecionar, o filme comentado desta vez é “A coleção invisível” do diretor francês Bernard Attal, radicado no Brasil há dez anos e formado em cinema  pela New School  de Nova York. O filme ficou conhecido rapidamente por ter sido o ultimo trabalho do Walmor Chagas, que suicidou-se  em  janeiro de 2013.
A coleção Invisível fala genuinamente das mazelas brasileiras, mais precisamente da decadência  dos homens ricos do Sul da Bahia em decorrência da vassoura de bruxa, praga que acabou com o monopólio do cultura do cacau da região. O roteiro mostra como os fazendeiros de cacau esbanjavam seu dinheiro no auge da opulência  cacaueira e como terminaram seus dias após a quebra financeira provocada pela praga que acabou com as fortunas no Sul da Bahia, posto que depois dela o cacau nunca mais foi o mesmo em termos financeiros.
No filme de Barbard Attal, Beto, personagem central vivido por Wladimir Brichta, é um jovem empresário inconsequente, cuja mãe viúva de um marchand (comerciante de obras de arte),  proprietária de um antiquário em Salvador se encontra em dificuldade financeira. Ele, por sua vez, sofre o revés de perder seus amigos em um terrível acidente de carro e como válvula de escape vai socorrer sua mãe buscando uma famosa e rara coleção de gravuras comprada por um rico fazendeiro de cacau de Itajuípe nos anos de 1930. A famosa coleção colocada em exposição pode ser a salvação do estabelecimento  de sua familia.
Ao chegar em Itajuípe a procura do fazendeiro Samir, vivido por Walmor Chagas, Beto se depara com dificuldades inexplicáveis, como a atitude da esposa de Samir (Clarisse Abujamra) que faz de tudo para que o encontro não aconteça. Beto, que já vem de uma grande derrota da vida, não se deixa abater e insiste até conseguir encontrar o velho amigo de seu falecido pai. Para alcançar seu objetivo ele tenta seduzir a filha do fazendeiro e fica sabendo que Samir se encontra cego, mas não entende o porquê da resistência das duas mulheres em permitir um encotro dele com o pai.
Depois de muita luta Beto consegue o desejado encontro com Samir e se depara com a coleção que procurava. Ao manusear a coleção invisível, Beto percebe e entende os motivos da resistência das mulheres que, na verdade, são duas leoas lutando pela preservação do pouco que lhes restou e pela continuidade do império particular há muito tempo falido.
A Coleção Invisível, a princípio teria a virtude de salvar o antiquário daqueles que a negociaram para satisfazer os caprichos de um colecionador apaixonado pelas artes, mas por coincidência salvou seu próprio comprador garantindo a ele e sua família a sobrevivência após a derrocada financeira. O filme é um drama real vivido pelos antigos ricos da região cacaueira, e contextualizado com a decadência dos grandes centros como a capital.
O diretor Bernard Attal, trabalhou com uma linguagem bem natural da Bahia, utilizou atores de Itajuípe,  e da capital como Frank Menezes e buscou os cenários reais para mostrar um ambiente bem natural. A coleção Invisível é um filme com várias premiações, incluindo, melhor ator coadjuvante para Walmor Chagas (póstumo), melhor atriz coadjuvante para Clarisse Abujamra e melhor filme pelo juri popular em Gramado em 2013. Mesmo pertencendo ao gênero drama, é um filme que não deixa o espectador estressado, trabalha o lado da miséria humana e a tentativa de sobrevivência. Vale a pena assistir.
                                                                                                                           Jun. 2015



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