A Elite e a cultura local
Anunciaram
e garantiram que a festa do Amparo ia ser mudada, por causa disso muita gente na
cidade começou a gritar, até disseram que só iam à Igreja pessoas maduras,
porque a dos costumes destrói a cultura. Eu não quis crer nessa conversa dura,
fui procurar aqueles que determinam o que é melhor para o povo eleitor, e
percebi que uma minoria de maneira totalitária, está conseguindo modificar
costumes de décadas em determinado na festa local, sem consultar aqueles que
proporcionaram suas permanências em determinados postos derivados da política.
Não entendeu nada né? Explico agora.
Pra
começar devo dizer que num regime totalitarista, as classes média e alta,
determinam, a partir dos seus valores, o que é melhor para uma população sem se
preocupar se essas decisões farão bem ou mal aquela sociedade atingida. Então, o que acontece em Valença é exatamente
isso, um grupo de “burgueses” junto a aquele grupo chamado de sociedade
organizada, tomaram a decisão de modificar muito a festa do Amparo. Essa
decisão de cima para baixo, além de mexer com os fazeres culturais vai
prejudicar muito aquelas pessoas que aproveitam a época da festa para garantir
um ganho maior vendendo bugigangas no circuito, aquelas coisas que crianças
adora, como bolas, maçã do amor, cachorro quente e outros. Não encontrarão também,
se a mudança for mesmo efetivada, o acarajé, a pipoca, o algodão doce, os doces
de forma genérica. Enfim a diversão de crianças e adultos está ameaçada. É
claro que os comerciantes local também triplicam o faturamento nessa época e os
moradores da área se sentem incomodados com todo esse agito cultural.
Antes
de mais nada, devo dizer que existem medidas tomadas que são necessárias, tais
como, venda de bebidas em garrafas, a lei não admite, proibição de subida de
automóveis, até porque a rua não comporta. Os churrasquinhos no espeto, acabei
de descobrir que existe uma lei estadual que proíbe sua venda em festa de largo
por ser um objeto pontiagudo que pode se transformar em arma, tudo bem. Mas estão
modificando tudo na festa, as barracas que ficam no circuito foram retiradas, e
para compensar, surgiu uma nova modalidade de negócios no alto do Amparo, um
shopping amparo, temporário e a céu aberto, é isso mesmo, vão ser criadas
praças de alimentação. Agora eu interrogo, quem serão os privilegiados que
participarão desse circuito chique? Posso até arriscar em dizer que em primeiro
estarão os membros da Igreja e depois se sobrar alguma vaga, quem sabe, quem
for mais amigo de quem distribui a vaga consiga um lugarzinho para trabalhar.
Amigos
e não amigos, a festa do Amparo foi criada pelas mulheres da Vila Operária há
mais de quarenta anos atrás e com aparato cultural que existe atualmente, como
a montagem de barracas para vender doces e alimentos, e é claro que com o
passar do tempo outras atividades vão surgindo. Na década de 1980 havia boate
no circuito, eu mesma dancei muito lá. Quem não lembra da antiga sede do mach
five? Hoje reside no local a filha de Italmar Meirelles; e as festas no espaço
Mirante, quem não chegou lá? Depois vieram os barracões com sambões e pagodões,
confesso que acho essa modalidade de música muita chata, mas tem quem goste.
Essas pequenas mudanças podem ser chamadas de ressignificação, porque não
acabou, apenas mudou a forma de se continuar o que já existia de maneira
diferente. Agora o pequeno grupo que exige mudanças radicais chama a proibição
de fazer quase tudo de “ressignificação”.
Acho que estou desaprendendo o significado das coisas, ou estão
subestimando minha inteligência.
A
festa do Amparo é um festejo popular, do qual a Igreja se apropriou e a
comunidade aceitou, transformando a cidade num mar de pessoas no dia 08 de
novembro todos os anos. Todavia, outras intromissões abruptas na organização
fica complicado. Na boa, você já viu pessoas católicas participarem de reuniões
para decidir como fazer um evento evangélico? Então devo te informar que a
resolução sobre a nova ordem da festa do Amparo foi tomada por uma grande parte
de pessoas evangélicas, tá bom pra você? E agora para quem se acende a vela? Jesus
disse “a César o que é de César”. Os evangélicos não querem saber dos católicos
por perto para nada, e os católicos chamam os evangélicos para decidirem suas
festas. Ideia muita complexa para minha inteligência.
Ah,
a festa do Amparo tem como preocupação oferece Jesus para a comunidade que já
faz parte da Igreja, mas e os visitantes que deveriam ser conquistados, eu
hein? O objetivo da festa é oferecer Jesus realmente, mas parece que a Igreja
não está ouvindo o que o Papa Francisco está pregando; qual seja, a conquista
dos fiéis. E o grupo totalitário tem mais valor que o pensamento do Papa. E
nesse caso, determina quem pode subir e o que se pode fazer durante a festa.
Quanto aos camelôs, serão jogados em algum lugar distante, onde ninguém
compareça com medo de ser assaltado. A função da festa é evangelizar em
primeiro lugar mas também é um mecanismo de sustentação do trabalhador pobre
que precisa dessa renda para ajudar em sua economia. Com essas mudanças essa
população não conseguirá a renda a mais tão desejada, e o pequeno grupo que
toma as decisões a partir de sua forma de pensar sem se preocupar com as
minorias ficará feliz por conseguir desconstruir a cultura local. E não me digam que a festa da cidade que dura
apenas um dia (10 de novembro), vai suprir a perda econômica que essas pessoas
terão.
Out. de 2013
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