A conspiração dos alfaiates (esquete para teatro na escola) Irene Dóres

 (mar. 2008)      


Cena 1 – A execução de Tiradentes

Narrador 01: Nós estamos aqui para contar uma história verdadeira sobre homens nascidos na Bahia, como nós, que foram enforcados na Praça da Piedade, onde hoje vocês namoram, riem e comem pipocas. Esses homens, Lucas Dantas, Manoel Faustino e João de Deus, todos muito pobres, pretenderam separar a colônia do Brasil do Reino de Portugal. Pretenderam também proclamar a República e acabar com a escravidão, mais de cem anos antes que isso acontecesse. Eles queriam um país onde houvesse liberdade, igualdade e fraternidade e, por isso, foram enforcados deixando seus exemplos para ensinamento de nossa aprendizagem e de nosso orgulho. Pouco antes deles em Minas Gerais, Tiradentes tentou o mesmo e teve a mesma sorte. Hoje, nós estamos aqui para contar a história da conspiração de Lucas Dantas, João de Deus, Luiz Gonzaga e Manuel Faustino, que aconteceu em dias do século dezoito, onde havia sol e chuva, como agora. A diferença é que o Brasil não era uma república, mas uma colônia do Reino de Portugal, e todos os brasileiros precisavam sustentar com os seus trabalhos e obedecer com as suas cabeças aquilo que os reis portugueses exigiam.

Narrador 02: Estamos em 1792 e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ainda não é um herói, mas um bandido, um marginal. Ele foi o líder dos subversivos que pretenderam acabar com a exploração de Portugal sobre o Brasil, que já durava trezentos anos.

Narrador 03: “Portanto, Portugal condena o réu, Joaquim José da Silva Xavier, alferes da tropa paga da Capitania de Minas, que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas ao lugar da forca e nela morra de morte natural, para sempre”.

Narrador 01: “Declaram o réu infame e infames seus filhos e netos, e seus bens serão confiscados pela câmara real”.

Narrador 02: “A tropa traja uniforme, um uniforme de gala. Os cavalos têm as crinas enlaçadas de fitas cor de rosa e ferraduras de prata”.

Narrador 03: “E a casa em que vivia em Vila Rica seja arrasada e salgada, e que lá nada mais se edifique”.

Narrador 02: “E, no mesmo chão onde está esta casa, se levante um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia desse abominável réu”.


Cena 2: Ode à sedição baiana

Narrador 01: Agora, prestem muita atenção. Este é Lucas Dantas de Amorim Torres. Pardo, livre, solteiro e muito jovem. Sabe ler e escrever e mora ali, na Rua do Paço, onde promove reuniões com outros jovens para discutir a abolição da escravatura, igualdade entre brancos, pardos e negros e a instauração da República.

Lucas Dantas: Precisamos fazer uma guerra civil para que não mais se distinga cor branca, parda e preta, para que sejamos todos felizes, sem exceção de pessoa, para que não estejamos sujeitos a sofrer de um homem tolo, que nos governe, porque só nos governarão aqueles que tiverem juízo e capacidade para comandar homens, seja ele de que nação for, ficando o povo em governo democrático e absoluto.

Narrador 02 : Este outro é João de Deus do Nascimento, um mulato que nasceu em Cachoeira, filho de uma parda que era escrava e comprou sua liberdade, de um branco. É casado e pai de cinco filhos. Comenta-se que ele é um alfaiate insolente, atrevido e despojado, tendo sido repreendido severamente outro dia por que foi procurado por um rico senhor de engenho em sua tenda de trabalho e, para demonstrar a sua insolência, permaneceu sentado, como estivesse diante de um negro.

João de Deus: Eu sou muito capaz para tudo, mas já me considero perdido, carregado de querelas. Tenho seiscentos mil réis guardados e com eles quero ir para Angola. É difícil morar numa terra onde a cor de um homem é mais importante do que seu trabalho.

Narrador 03: Este é Manuel Faustino dos Santos Lira, tem 16 anos e era escravo de Antonio Francisco de Pinho até outro dia, mas conseguiu juntar dinheiro para comprar sua liberdade. É um mulato bem aprumado e alfaiate de oficio. Mora no Terreiro de Jesus, sabe ler e escrever participa das reuniões onde se fala muito da liberdade e da igualdade entre brancos, pardos e negros. Apesar de escravo, fala da liberdade com sabedoria.

Manuel Faustino: Homens, o tempo é chegado para nossa ressurreição. A França está cada vez mais exaltada, as nações do mundo têm seus olhos fixos na França e os reis têm medo. A rainha de Portugal tem medo, o rei da Inglaterra tem medo, o rei da Prússia está preso pelo seu próprio povo. O dia da nossa revolução, da nossa liberdade, da nossa igualdade está para chegar.

Narrador 03 : E, por último, nós temos Luiz Gonzaga das Virgens, que tem 33 anos, é pardo e também comprou sua liberdade. É solteiro e soldado granadeiro do Primeiro Regimento de Linha desta Praça. Já desertou três vezes da milícia e recentemente foi submetido ao Conselho de Guerra. Sabe ler e escrever e tem uma letra muito bonita, com que escreve cartas e mais cartas, falando de igualdade, que são enviadas à rainha.

Luiz Gonzaga: Queremos a república para respirar livremente, porque vivemos sufocados. Porque somos pardos, não temos direito a nada, e com a República haverá igualdade para todos.

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