CANUDOS, POVO SOLIDÁRIO, CIDADE CORDIAL
Você
acredita que na Bahia ainda exista alguma cidade onde as pessoas sejam amáveis,
as ruas sejam bem largas, não existam sinaleiras, os motoqueiros não usem
capacetes. Uma cidade tranquila, onde o povo transite a qualquer hora do dia ou
da noite sem correr perigo. Uma cidade não contaminada pela droga e com índice
quase zero de violência? Essa cidade existe, está no sertão da Bahia se se
chama CANUDOS. É claro que essa tranquilidade se deve à população da cidade que
é muito pequena, menos de 16 mil habitantes, mas é uma cidade fantástica.
Ao
chegar em Canudos e penetrar
literalmente na história do Brasil me emocionei muito, pois a história que
narro para os alunos dos cursinhos que ministro aulas, estava ali, diante dos
meus olhos, de maneira clara, viva e acima de tudo forte como externou Euclides
da Cunha em seus relatos. Meu primeiro encontro com a história narrada nos
livros foi a visão do rio Vaza Barris, bem na barragem do açude construído para
reservar água do rio que há anos atrás foi palco de uma guerra desigual entre
Canudos e o Exército brasileiro que veio ao sertão baiano para garantir o fortalecimento da República contra um povo
que não representava perigo real na manutenção do regime de governo recém
instaurado.
O
rio Vaza Barris se encontra muito seco, pois não chove na região há dois anos e
suas águas sustentam um perímetro irrigado que fortalece a economia da região.
Quando chegamos à cidade caiu uma forte chuva e os moradores falavam em tom de brincadeira que: “a delegação
do Fórum de cultura da Bahia trouxe a chuva para nós, sejam bem vindos”. Apesar
de estar acostumada com as constantes chuvas aqui na minha região, adorei que
lá estivesse chovendo, pois as águas do rio Vaza Barris começaram a aumentar o
volume mesmo que ainda de forma insignificante, coisa de 2m.
Canudos
é uma cidade cuja economia se baseia na criação de caprinos para corte, na
participação do DNOCS, projeto do Governo Federal, que se ocupa em viabilizar
recursos para Canudos na área de poços artesianos, construção de barragens,
limpezas de aguadas. O DNOCS trabalha ações de infraestrutura hídrica para
combater os efeitos da seca, e do turismo especulador e educacional. Nesse caso quem ganha são os hotéis que
hospedam os pesquisadores e visitantes que passam por ali apenas para conhecer
a cidade e a história do beato Conselheiro.
Falando
em Antonio Conselheiro nunca vi tanta devoção a uma pessoa, os canudenses veem
o beato Conselheiro como santo. No município não há imagem de Cristo Redentor como
em toda cidade do interior, mas há vários monumentos de Antonio Conselheiro. La
existe o alto do Conselheiro que é um lugar bem legal os canudenses costumam ir
para lá nos domingos, ali eles rezam e se divertem, tem igreja, área de lazer, barzinho é um lugar
bom para diversão. No meio da cidade se encontra a Igreja católica, um prédio
moderno que traz em suas gravuras externas a vida de Antonio Conselheiro. Em Canudos tem
Memorial, Santuário (chamam de museu na velha Canudos), enfim, tudo na região
representa o beato.
Lembrando
os horrores da Guerra de Canudos, os descendentes dos participantes em sua
maioria têm o beato como um santo ainda em vida, a fé no homem na região se
mostra muito maior que a dos soteropolitanos para a irmã Dulce. O povo conta
que ele fazia como Jesus fez, multiplicava o alimento para o povo população que
ficava muito satisfeita com o pouco que cabia a cada pessoa. Os moradores da
Velha Canudos tiveram que ser transferidos para outra localidade há 26 km da
Canudos original, quando esta foi engolida pelas águas do rio Vaza Barris ao
ser represado pela construção do açude.
A
transferência da população para outra localidade não mudou os sentimentos dos
canudenses que são apaixonados pelo beato e continuam vendo Antonio Conselheiro
como um santo. No entanto há também pessoas que não gostam do beato, são os
descendentes de alguns sobreviventes da guerra de Canudos, os quais ouviram
sempre daquele órfão que perdera sua família com idade entre 08 e 12 anos e
crescera sozinho, esse abominava Conselheiro e ensinou aos filhos e netos que
ficou só no mundo por causa dele. Há também outro grupo social que não gosta do
beato; são os evangélicos porque não aceitam que as pessoas orem para
Conselheiro.
A
arte de Canudos é toda voltada para a sua história, o teatro, o artesanato, a
música, enfim, o povo de lá respira o beato Conselheiro por todos os poros. Por
conta de ser uma cidade histórica, Canudos está sempre visitada por emissoras
de televisão do Brasil, dos países vizinhos e até da Europa, e seu povo já nem
se importa com a “invasão” a presença das equipes de programas educativos e
comerciais às vezes até irrita os canudenses, pois as emissoras não trazem
retorno financeiro para a população de forma generalizada. O fluxo de turistas
não gera renda suficiente para sustentar a economia de uma cidade que ainda é
dependente de Euclides da Cunha em certos momentos. Por exemplo, se acontece um
assalto a banco, única modalidade na cidade (explosão de caixas eletrônicos)
Canudos pára por cerca de seis meses, e a renda local fica toda em Euclides,
porque a população precisa ir lá para receber os salários, então já aproveitam
para fazer suas compras.
Em
alguns aspectos os poderes públicos também se mobilizam na organização de
Canudos, a UNEB organiza e administra o Parque Nacional de Canudos que é aberto
a visitação pública e os guias garantem seu sustento informando ao visitante
sobre a historia do lugar. O DNOCS cuida da minimização da seca e a história
garante a sobrevivência de alguns grupos sociais como os empresários de hotelaria.
Nos pontos turísticos e de preservação ambiental, Canudos tem uns personagens
com personalidade e que dão o maior trabalho para o visitante, eu, por exemplo,
não consegui vê-los. Quem são eles? São as ararinhas azuis de lear, elas saem da
“toca” (montanhas onde moram), às seis da manhã, seguem para outras localidades
e só retornam à noite.
Na
moral, Canudos é uma cidade pobre, mas, muito linda de visitar, é um lugar
impregnado de história, de emoção, de fé e de humanidade. Os hotéis lotaram
durante o Fórum de Cultura e as pessoas alugaram seus quartos em suas casas
para não deixar os participantes na rua. É a solidariedade falando mais alto, é
o sertanejo mostrando porque é forte.
maio de 2013
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