A garota de Hitchcock

 Esses dias de posse do meu poderoso controle remoto, resolvi visitar os canais fechados de televisão HBO e não é que lá encontrei um filme  lindo de assistir. O nome: “A garota”. Uma cinebiografia não autorizada e pós-morte de Alfred Hitchcock, referindo-as às suas relações de poder com a atriz Tippi Hedren que fez dois dos seus filmes mais famosos, “Os Pássáros e Marnie, Confissões de uma Ladra”.

A primeira análise a ser feita obviamente é sobre a atuação da Sienna Miller que interpreta a Tippi, atriz premiada em “Os pássaros” com um globo  de ouro por volta de 1963. Fazendo jus à performance de sua interpretada a Sienna  também foi indicada ao mesmo prêmio em 2012 pela sua atuação na cinebiografia; feliz coincidência. O filme mostra a relação do aclamado Diretor Hitchcock com sua estrela e a maneira como ele pensava em passar uma sensação de realidade para o espectador de sua obra. A cinebiografia trata em especial do interesse frustrado do diretor pela atriz por ele descoberta deixando transparecer a inexistência de uma vida conjugal dentro de seu lar, assim como a resignação de sua esposa Eva às tentativas desesperadas de Hitchcock em provar que podia desenvolver bem sua vida sexual através dos casos extraconjugais com suas beldades louras e vítimas de alguma situação escabrosa.

Para além da atuação da Tippi Hedren, mãe da também atriz Melanie Griffith, percebe-se nesta narrativa o abuso contra a mulher ou na nomenclatura atual o assédio moral vivido pela atriz. Hitchcock lança a então modelo no cinema, para substituir a Grace Kelly que acabara de se tornar princesa de Mônaco, porém fica perdidamente apaixonado pela nova loira, ao perceber que ela é uma profissional que não se doa para conseguir a fama, ele decepcionado e inconformado passa a maltratá-la nas cenas, levando-a a repetir por dias seguidos a mesma cena e causando-lhe lesões corporais no decurso do trabalho.

A história do diretor Julian Jarrold relata que a jovem atriz Tippi Hedren apesar de estar em início de carreira, e ao mesmo tempo, estar sendo vítima de abusos por parte de seu diretor, mostrou-se com bastante personalidade e cumpriu sua tarefa em realizar uma bela interpretação para um filme que se tornou um dos grandes clássicos de Hitchcock para o cinema mundial.

Se há dúvidas sobre a continuidade do trabalho da atriz com o diretor, foi um ato compreensível vez que até os dias atuais os empregados temem os patrões e seguram seus empregos mesmo sofrendo abusos para garantir a sua sobrevivência. No caso da Tippi, pesava sobre ela um contrato de 07 anos dos quais ela cumpriu penosamente, conforme a narrativa 05, e se o quebrasse  antes poderia ter ido à falência. Mesmo assim, ela corajosamente e sob ameaça, parou ao concluir o segundo filme ainda restando 02 anos de contrato e teve sua carreira bastante prejudicada, por que Hitchcock, não permitia que ela trabalhasse para outros estúdios.  Somente quando ela já estava quase esquecida ele vendeu seu passe para o estúdio Universal.

O filme “A garota” mostra que o estrelado pode ser muito cruel e que vida de artista nem sempre é tão glamorosa como se pensa; da mesma forma quebra o mito de que todo artista se vende para fazer sucesso. O filme é ótimo e eu recomendo para todos aqueles que gostem de um bom drama. Para mim restou a certeza de que por traz de certos gênios há uma grande dose de crueldade.

Marc. 2013