TEATRO DOS HORRORES

abr. 2011
Nos últimos dias, passando na rua avistei um cartaz com a propaganda de um espetáculo teatral intitulado ...”alguma coisa do inferno ou inimigo” algo desse tipo. Pensei por que não ir? Pode ser um espetáculo de terror! Lá fui eu ver o tal espetáculo, ao chegar ao teatro encontrei casa lotada e alguns espectadores no foyer já aguardando a próxima sessão. Como ainda estava no início e eu tenho livre acesso, entrei pelo acesso dos funcionários, ao chegar lá avistei um cenário infernal, figurino do outro mundo e o capeta em cena. A cena então era triste, o capeta desqualificava as mulheres e elas concordavam passivamente. Aceitavam as piadas muito grosseiras e até mesmo agressivas. Continuei ali na esperança de ver o espetáculo evoluir com belas performances, porque o figurino prometia. E o capeta mais ainda, estava ali muito serelepe dando seu recado.
De repente, para tudo!!!!
O espetáculo toma aspectos de congresso religioso com parada para discurso evangelizador, e mais desqualificação da mulher, testemunhos de várias naturezas, tudo isso, incluindo relatos sobre a vida pregressa do protagonista, (o capeta).
Era tudo muito negro, o capeta mais parecia um chefe de Igreja assombrando os seus fiéis e ameaçando que quem não levantasse a mão e saísse dali da mesma forma que entrou, estaria caminhando para o inferno acompanhado por ele - eu é claro estou inclusa fora dessa lista. Mas o diabo tentava convencer as pessoas do teatro a levarem flores juntamente com ele para os pecadores, e bem depois, em forma de gracejo disse: “peguei vocês, eu domino todos, convenci-os a se transformarem em capetas pelas minhas idéias porque sei de tudo, inclusive conheço a Bíblia de trás para frente e domino seus conhecimentos.
Nessa hora confesso que me assustei, o diabo estudioso da Bíblia? Conhecedor dos seus fundamentos?
Parei pra pensar um pouco... Se o diabo conhece bem a Bíblia e os fiéis de forma geral se apóiam nela para dirigirem suas vidas, a quem estariam servindo? Se a Bíblia é escrita com base nos ensinamentos de Jesus e o diabo a domina então aqueles alienados que se deitam e se levantam sobre ela e a carregam embaixo do braço estão mais para capetas do que para santos.
Pensei um pouco mais... Se Deus é só amor, perdão e caridade porque as pessoas usam o nome dele para assombrar? O que eu vi naquele teatro foi só assombração. Assombração apoiada no nome de Deus.
E as mentiras! Cada caso tenebroso, só havia cena de horror, nenhuma felicidade, livre arbítrio nem pensar! “como alguém pode ser feliz sem obedecer e temer a Deus, vocês precisam orar, ler a Bíblia e cantar muitos louvores para Deus lhes abençoar”. Dizia o capeta em cena, mas ao mesmo tempo reclamava que só Deus sabia o quanto ele sofria para fazer aquele personagem, (isso em plena cena, ou seria um intervalo aberto?).
Há controvérsias sobre afirmação de sofrimento do protagonista, ele parecia tão à vontade no papel do capeta, parecia até o próprio (se é que a imagem do capeta é aquela), uma performance tão bonita. Cá entre nós é difícil para um profissional do teatro encarnar um personagem sem nenhuma identificação, - que ele não tenha prazer em interpretar - ainda mais com essa repulsa.
Nos meus quase trinta anos de teatro já assistir, fiz e produzir muita peça infantil com historinhas que só assombram crianças (com o intuito de educar)  do tipo “não more com madrasta, ela é má por natureza; não saia sozinha, o lobo mal pode te pegar; não aceite presentes (maçã) pode ser perigoso” até ai tudo mais ou menos bem, peças infantis ajudam as mães a dominarem as crianças peraltas, mas culto religioso com cenas teatralizadas para assombrar adultos. Com essa idéia eu não contava, aliás, nem eu, nem a torcida do flamengo, não religiosa que lá se encontrava.
Agora estou traumatizada, vou pensar duas vezes antes de ir ver peças teatrais com nomes esquisitos, antes de me deslocar para o teatro farei uma análise prévia, ou seja, procurarei conhecer antecipadamente a sinopse do espetáculo, para não correr o risco de me deparar com o teatro dos horrores, onde o público não entende direito o que é teatro e o que é vida real no palco. Onde um espetáculo teatral tenha cunho educativo, mas, não traumatize os espectadores com ameaças e críticas desnecessárias.
Eu quero, eu gosto, eu faço o teatro da informação, da educação, da diversão. Eu quero o teatro da arte e da boa crítica, onde as pessoas possam se ver cotidianamente e sem medo de ser feliz.

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