A morte e a morte da voz do Zezé
Esses
dias vendo o programa do Faustão fiquei emocionada, angustiada e consternada ao
mesmo tempo, senti-me tão impotente diante das resultantes do ciclo da vida e reafirmei a natural decadência humana que
atinge a qualquer pessoa sem se preocupar com seu poder aquisitivo, credo,
posição social e projeção nacional. Pois o problema de saúde quando acomete
alguém não se incomoda com o seu papel na sociedade tampouco com sua
importância para o mundo.
Para
quem viu o mesmo programa que eu, sabe que me refiro ao cantor Zezé Di Camargo da
dupla “®Zezé
Di Camargo e Luciano”, o qual se encontra definhando publicamente. É que
sua voz está morrendo ou mudando de algoz, e como disse o Chico Buarque de
Holanda na canção “A voz do dono e o dono
da voz”, a voz de Zezé ... “ficou cansada após cem anos fazendo a santa,
sonhou se desatar de tantos nós, nas cordas de outra garganta...” mas o
Zezé precisa dessa voz e insiste em mostra-la nos seus shows, DVDs e CDs. E
dona voz que quer se mudar mesmo não se aguentando mais, ainda tenta mostrar
alguns acordes, “e, rouca, regalar os
seus bemóis, em troca de alguns brilhantes, enfim a voz firmou contrato, e foi
morar com novo algoz...” Esse algoz
é o emudecer de quem nasceu pra cantar, é assim por dizer a morte em vida do
artista que por vontade não deseja se calar.
É, o
Zezé esta se calando de maneira paulatina, sua voz está se encaminhando para um
novo algoz, a falta de fôlego é perceptível suas cordas vocais estão entrando
em falência. E o cantor sertanejo conhecido por sua voz aguda, nítida e
afinada, segue fazendo um esforço incomum para balbuciar a letra da canção
enquanto a melodia é interrompida constantemente pela deficiência da corda
vocal já bastante debilitada. E isso não por falta de cuidados, mas por um
problema de saúde conhecido como refluxo.
O
refluxo é um problema que atinge, segundo pesquisas, 5% da população mundial. O
retorno do suco gástrico do estômago para o esôfago atinge a garganta e queima
as cordas vocais. Nesse caso, quem vive de cantar acaba tendo a voz, seu precioso
objeto de trabalho, afetada provocando a aposentadoria involuntária.
É o
refluxo chegando, é o cantor agonizando, é o público acompanhando a morte da
voz e a impotência do seu dono diante das intempéries da vida que segue seu
rumo sempre mostrando para o ser humano que a fragilidade independe do poder.
Assim a canção do Chico Buarque traduz a falta de piedade da vida para com os
seres humanos em toda sua plenitude. “A
voz foi infiel, trocando de traqueia e o dono foi perdendo a voz, e o dono foi
perdendo a linha - que tinha, e foi perdendo a luz e além, e disse: "Minha
voz, se vós não sereis minha, vós não sereis de mais ninguém". Claro
que não será, a voz do dono é só dele, se faleceu, acabou, o dono passa a viver
a angustia de não poder cantar e a conviver com sua incapacidade de mudar o que
não pode ser mudado.
Abr..
2013
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